A implantação de sistemas de energias renováveis é considerada uma opção para autossustentabilidade, especialmente nas áreas rurais. Uma proposta do Plano Estratégico de Desenvolvimento do Conselho Regional de Desenvolvimento (Corede/VRP) é a produção de energia a partir de biomassa e alguns experimentos já foram feitos. Um deles foi conduzido pela Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), que implantou um biodigestor no Parque da Expoagro, onde já foi possível gerar energia elétrica. Conforme o técnico agrícola Nataniél Sampaio, o biogás produzido atendia o abastecimento de um pequeno motor, o qual gerava energia elétrica que era usada para atender parte da demanda das instalações do espaço dos animais no parque.

O experimento da Afubra teve o propósito de avaliar o processo de tratamento de dejetos bovinos por biodigestão. O esterco gerado na atividade leiteira da propriedade da Afubra era transformado em gás metano que pode ser usado tanto como biocombustível quanto para ser queimado diretamente. “Após a biodigestão, os dejetos se transformam em biofertilizante usado para adubação de lavouras e pastagens”, explica. Na avaliação do técnico, o sistema de biodigestão é uma forma eficiente de produção de biogás além de proporcionar grande benefício ambiental. “O sistema produz dois insumos para a propriedade: o biogás e o fertilizante, e também atende a legislação ambiental quanto ao tratamento dos resíduos”, conclui Sampaio.

Entre os produtores rurais da região, os trabalhos mais avançados no uso de biodigestores estão em Mato Leitão, onde cinco propriedades contam com estruturas para potencializar o uso de dejetos de animais, mas ainda não foi possível transformar o gás metano em energia elétrica. Segundo o chefe do escritório da Emater/RS-Ascar no município, Claudiomiro de Oliveira, os produtores aprovaram a eficiência dos biodigestores na aceleração do processo de fermentação do estrume para uso como fertilizantes. “Além de gerar matéria orgânica para a melhoria do solo, os biodigestores reduzem significativamente o odor dos dejetos, facilitando o trabalho”, explica.

Na opinião de Oliveira, a tecnologia está se mostrando importante para os produtores e para o meio ambiente, pois, ao acelerar o processo de fermentação, reduz a poluição do meio ambiente e evita a acidez do solo. “A aplicação de dejetos não fermentados no solo é mais danosa do que benéfica, pois aumenta a acidez”, alerta. “Os biodigestores estão resolvendo esse problema e dando destino correto aos dejetos dos animais”, conta. Os produtores de Mato Leitão obtiveram seus equipamentos subsidiados pela Secretaria Estadual de Desenvolvimento Rural (SDR), que possui um programa de desenvolvimento de infraestrutura energética.

No modelo dos biodigestores de Mato Leitão, é possível o uso do gás metano para o aquecimento de água e de ambientes, mas a prática ainda não foi adotada. E, conforme o chefe local da Emater/RS-Ascar, para produção de energia elétrica, o volume de matéria orgânica deveria ser muito maior e seriam necessários novos equipamentos para a geração de eletricidade, o que, no momento ainda é inviável para os produtores. “Os biodigestores produzem cerca de 100 metros cúbicos de gás por mês e seria necessário multiplicar esses números por 10 para gerar energia elétrica eficiente”, exemplifica.

Os irmãos Vilson e Airton Becker, de Arroio Bonito, possuem seu biodigestor em funcionamento há um ano. Na propriedade, os dejetos dos 330 suínos vão para uma estrutura de 88 metros quadrados para a fermentação. Após cerca de 20 dias, o composto sai líquido e já fermentado, apto para uso no sistema de fertirrigação, que, no caso dos irmãos Becker, fertiliza sete hectares de pastagem para o gado leiteiro. “Uma vez por semana o biodigestor é abastecido e uma divisória interna faz com que o material já fermentado vá em direção à saída para o depósito do sistema de fertirrigação”, explica Vilson Becker. “Antes, a fermentação não se dava antes de 90 dias, e agora, em menos de um mês já é possível aplicar o adubo orgânico no solo”, conta. Na propriedade, além da suinocultura, há produção leiteira, com 53 animais da raça Holandês, que produzem 20 toneladas de leite por mês.

Estrutura na propriedade da família Becker
Estrutura na propriedade da família Becker