Envolvido com a produção leiteira e agrícola desde muito jovem, Evandoir Gaspar Heinen, 46 anos, é o primeiro produtor de Mato Leitão a investir na utilização do sistema de confinamento de vacas leiteiras chamado ‘compost barn’, que em tradução livre significa celeiro de compostagem. De origem americana, na prática, o termo corresponde a um novo modelo para alojar vacas, garantindo aumento do bem-estar animal e, assim, incremento na produção.

Na propriedade de Heinen, na Vila Arroio Bonito, a nova forma de confinamento começou a ser executada há três semanas, quando as vacas foram colocadas no galpão novo, estruturado especialmente para esse fim. Os cerca de 70 animais só saem do espaço duas vezes ao dia, quando vão para a ordenha, e têm comida à disposição o tempo todo, no local.

O espaço começou a ser construído em março deste ano e, segundo o produtor, o investimento foi de aproximadamente R$ 400 mil. Parte deste valor foi custeado com financiamento feito junto ao Sicredi e parte se refere a valores próprios da família. Além disso, a Prefeitura de Mato Leitão apoiou a iniciativa por meio da terraplenagem e serviços de horas-máquina. “Sem esse apoio, não seria possível construir”, comenta.

Desde 2006, o morador de Vila Arroio Bonito utilizava o modelo de confinamento dos animais, chamado ‘free stall’, que em tradução livre significa baia livre. Ele explica que, neste sistema, as vacas leiteiras também ficavam confinadas, porém tinham camas separadas a partir de estruturas metálicas. “Esse modelo funcionou por um tempo, mas depois começamos a perder muitas vacas com problemas nos cascos, causados pela umidade ou pela mistura de esterco com a urina, o que causava o surgimento de bactérias”, relata. Foi por causa disso que Heinen e a família tiveram a ideia de investir no sistema ‘compost barn’. “Resolvermos investir no conforto e no bem-estar das vacas para ter retorno na produção”, observa.

Antes de começar a construção do novo sistema, Heinen e a família pesquisaram a respeito e visitaram produtores de municípios da região que já haviam implantando o modelo. “Fiz umas sete visitas, até que encontrei um galpão que gostei e achei que seria o ideal”, comenta o produtor de leite. Em uma das saídas de campo, o chefe do escritório da Emater em Mato Leitão, Claudiomiro da Silva de Oliveira, e o gerente da agência Sicredi da Cidade das Orquídeas, Mauro Stöhr, acompanharam o produtor para conhecer mais sobre o investimento.

SISTEMA

O galpão para o confinamento dos animais tem 77 metros de comprimento e 25,5 metros de largura. No local, são abrigadas cerca de 70 vacas de leite, que só saem do espaço duas vezes ao dia – entre 4h30min e 4h45min e por volta das 15h – quando vão para a ordenha.

O trecho de deslocamento até a sala em que está a ordenhadeira mecânica é de aproximadamente 30 metros. A ordenha dura cerca de duas horas e são entre cinco e seis vacas por vez. O restante do dia, os animais passam no galpão. A estrutura tem um espaço destinado a cochos para que as vacas possam comer e beber água.

O alimento é fornecido duas vezes ao dia, mas fica à disposição das vacas em tempo integral. Já a água, é a partir de um sistema automático.

Além disso, há um espaço chamado de cama, onde em cima do chão batido, é colocada serragem. Neste local, as vacas podem se deslocar e descansar conforme se sentem à vontade. O manejo da serragem que compõe a cama é feito duas vezes ao dia, com o auxílio de um trator de pequeno porte, e dura em torno de 10 minutos.

Conforto para os animais

PRODUTIVIDADE

De acordo com Heinen, é possível perceber que no período de três semanas já aconteceu uma mudança positiva em relação à produção. Ele explica que no sistema ‘free stall’ a média da produção estava sendo de 22 litros de leite vaca/dia. Já com o sistema ‘compost barn’, a média tem sido de 28 litros vaca/dia. “A ideia é passar de 30 litros”, projeta.

Para realizar o trabalho na propriedade, Heinen conta com o auxílio da esposa, Geni Konrad Heinen, 45 anos, e dos filhos, Augusto Henrique, 21 anos, e Davi Eduardo, 14 anos. Os pais Albino e Olimira Heinen foram os que iniciaram o trabalho com a produção de leite. Segundo o produtor, é preciso avaliar como será o retorno do investimento, para que novos passos possam ser dados.

CONFORTO

Evandoir Gaspar Heinen produz para a Cooperativa Languiru há mais de 10 anos e é integrante do Grupo do Leite. Ele acredita que a tecnologia veio para facilitar o manejo e que é sempre necessário estar atento ao bem-estar animal. Para o produtor, outro ponto positivo do sistema ‘compost barn’ é não perder tantas vacas, em função do adoecimento delas.

Segundo o chefe do escritório da Emater em Mato Leitão, Claudiomiro da Silva de Oliveira, o ‘compost barn’ é uma aposta para os produtores, principalmente por causa do conforto animal. “Ele se sente melhor e, com isso, tem menos perda de energia. Também facilita bastante o manejo”, explica.

Oliveira ainda ressalta a importância de se respeitar o espaço mínimo por animal e de fazer o manejo diário da cama, com o revolvimento da serragem, e, assim, melhorar a qualidade do ambiente. O chefe do escritório local da Emater também observa que a construção do sistema ‘compost barn’, apesar de envolver um investimento alto, é mais econômica do que a construção de um galpão free stall, pois se elimina os gastos com as estruturas de ferro usadas para separar as camas.

De acordo com Oliveira, uma recomendação da Emater é que sempre que os produtores pensam em fazer algum investimento ou construção, façam visitas e troquem experiências com quem já faz uso das tecnologias. “Trabalhamos com isso, de ver a realidade de outros produtores, ver como está funcionando o sistema, olhar a construção em si”, menciona.

LEITE

A produção de leite em Mato Leitão é de aproximadamente sete milhões de litros por ano. São entre 65 e 70 produtores de leite no município, distribuídos em praticamente todas as localidades do interior. Contudo, segundo Oliveira, o maior volume de leite produzido no município está concentrado em Vila Sampaio e Vila Arroio Bonito.

FONTE: Folha de Mato Leitão